Neste texto vou discorrer sobre um mecanismo desenvolvido
por algumas espécies para garantir sua sobrevivência e que é ferramenta importante
para o sucesso do trabalho de segurança preventiva: a aparência (que irei nominar ostensividade) como agente provocador de medo e gerador de senso de proteção na
natureza.
Observem a figura a seguir. O que ela sugere?
Esta espécie de mariposa é chamada de borboleta Coruja (Caligo
eurilochus brasiliensis) e vive na
floresta amazônica. Impressiona o desenho das asas deste animal parecer olhos esbugalhados, amedrontadores. Tal desenho inibe
ações predatórias contra a borboleta pelo medo que gera nos eventuais
caçadores. É um dispositivo de camuflagem que proporciona SEGURANÇA para a borboleta que a seleção natural fez prevalecer
para a continuidade desta espécie.
O "mundo animal" possui
diversos exemplos como o apontado acima e mostra o quanto “parecer” perigoso
pode se mostrar tão eficaz para a sobrevivência dos seres quanto ser perigoso
de fato.
A aparência entre os animais possibilita tanto a sobrevivência quanto a perpetuação da espécie,
e nota-se que espécies menos privilegiadas no item aspecto ameaçador, acabam
por desenvolver ou aperfeiçoar outros mecanismos adaptativos para sobreviver na
natureza.
Como exemplo pergunto: qual destes dois aracnídeos é o mais
perigoso?
O primeiro é a aranha marrom, presente em quase todo o
Brasil, possui veneno com propriedades necrosantes. O segundo é a aranha goliath
“comedora de pássaros”, um tipo de caranguejeira ocorrente na floresta
amazônica e considerada a maior aranha do mundo.
Ambas são venenosas, porém a aranha marrom possui veneno
muito mais potente que a caranguejeira. Por mais estranho que possa parecer, a
aranha do tamanho de uma moeda é mais mortal e perigosa que a caranguejeira de
28 cm!
Agora, refazendo a pergunta e entrando no tema: qual das
duas PARECE ser a mais perigosa?
Certamente a Goliath, com seu tamanho descomunal, não
precisa de veneno para impor respeito. Seu visual provoca em
nós maior apreensão do que uma pequena aranha marrom
provocaria. Para sua sobrevivência na natureza, o veneno da caranguejeira se tornou secundário para sua sobrevivência, pois seu tamanho e seu aspecto são suficientes para manter predadores como o homem bem longe dela.
Para nossos sentidos, parecer perigoso provoca reações que remetem ao instinto de auto-preservação presente em todas as espécies. Este alarme que aponta potencial físico para o dano ao observar um animal aparentemente ameaçador nos manteve vivos na época em que morávamos em cavernas, mas pode ser utilizado em favor da segurança, pois é este o senso que inibe a audácia de um ladrão moderno em furtar a residência quando se depara com o pitbull do outro lado do portão.
Fêmeas de diversas espécies do reino animal, no transcorrer
dos milênios de evolução, acabaram por eleger para procriação, machos com
atributos físicos que trazem a percepção de segurança para si e para a prole.
Não por acaso, observamos o ocorrente dimorfismo (diferença anatômica) sexual em
leões, pavões e (por que não) entre homens e mulheres.
Notem que estas alterações físicas nos machos geram sensação de
SEGURANÇA às fêmeas, que vêem num macho maior e mais forte alguém que irá lhe proteger, irá prover
os meios para sua sobrevivência e garantirá sua integridade física contra a
ação de predadores e outros agentes hostis.
Esta sensação, que moças adoram sentir quando acolhidas nos braços de seus mancebos, que bebês instintivamente sentem no colo de suas mães, são sensações primitivas que outras espécies também sentem, notadamente aquelas que se organizam em grupos como os chimpanzés e os seres humanos.
Este também precisa ser o senso que faz dos profissionais de segurança agentes de proteção, que despertam a tranquilidade daqueles que contam com seu trabalho de segurança.
Este também precisa ser o senso que faz dos profissionais de segurança agentes de proteção, que despertam a tranquilidade daqueles que contam com seu trabalho de segurança.
O fato é que o senso de medo e sensação de segurança são dois lados da mesma moeda.
Cabe aos gestores de segurança pública e privada compreender que o potencial para destruir e a força para proteger são importantes para a manutenção da segurança para as pessoas, e que o agente de segurança sem o potencial para oferecer medo ao bandido (baixa ostensividade) é tão ineficaz quanto o agente fortemente armado, com alta ostensividade que acaba por amedrontar a todos, inclusive àqueles que deveriam ser objetos de sua proteção.
Tal e qual o reino animal, é preciso que haja adaptação ante os diversos ambientes em que a segurança ostensiva se faz presente, pois quem deve sucumbir e ser extinto é o malfeitor.
E que sobreviva o mais apto.
E que sobreviva o mais apto.