segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Apoio psicológico ao agente de segurança: Tratamento ou castigo?




Recentemente, em reportagens veiculadas nas mídias impressas e virtuais acerca da reação de um policial militar ante uma tentativa de roubo de uma moto, ocorrida na zona leste da cidade de São Paulo, filmada pela câmera acoplada no capacete da vítima, surgiram rumores sobre um suposto “afastamento compulsório” do referido policial após sua reação, como represália por ter feito uso de sua arma de fogo contra a integridade física do “meliante”.

Sobre este caso, foi amplamente divulgado pelo site youtube e pelas redes sociais, o discurso inflamado do Deputado Estadual Major Olímpio, demonizando o Programa de Acompanhamento e Apoio ao Policial Militar (PAAPM), apontando a ingratidão do Sr Governador por seus policiais ao colocar seu agente da lei num programa de apoio psicológico da polícia como “castigo” por ter “atirado num bandido”.


Peço desculpas ao oficial superior, Sr. Major Olímpio, mas este "ex-praça" ousará “ponderar” sobre sua infeliz colocação, que passa uma imagem equivocada sobre o que é uma intervenção psicológica para profissionais de segurança que se envolvem em situações de risco à sua vida e à de terceiros e que que faz um total desserviço à população e à psicologia, com objetivos claramente políticos. O Sr. perdeu um eleitor com isso.

Sem qualquer pretensão em ensinar a policiais sobre como gerenciar crises, é evidente que, toda situação que implica em matar (ou quase matar como foi o caso) pode em maior ou menor grau resultar em situações de estresse emocional e pode alterar a percepção que as pessoas têm sobre a vida e sobre a morte. Não precisa um psicólogo dizer isso, basta ter um mínimo de inteligência e compreensão empática para que qualquer um entenda tal fato.

Muitos são os relatos de pessoas que entram num quadro de estresse pós-traumático após eventos dessa natureza, e apesar de não conhecer especificamente o PAAPM, aposto que o pessoal de lá possui muitas histórias de policiais que entram em depressão, adquirem síndrome do pânico e outras doenças psíquicas em decorrência do evento traumático que vivenciaram.

Certa feita, quando perguntei para um agente da lei sobre o que faria caso se envolvesse numa situação de resistência que resultasse na morte de um bandido, ouvi deste a seguinte “pérola:

“Matar ladrão é como matar porco, a gente se comove no primeiro momento, mas depois se acostuma”.


O raciocínio descrito acima, muito compreensível para aqueles que nunca mataram alguém e que defendem a bandeira do “bandido bom é bandido morto”, pode ser entendido como a manifestação catártica do público em geral sobre a aniquilação de ladrões das mais diversas formas possíveis e imagináveis, tendo em vista a sensação de impunidade e impotência em que vivemos.

 Porém, aproveitando a analogia acima, a grande maioria das pessoas adora comer feijoada, mas poucos são aqueles que se atrevem a “matar um porco”, ou mesmo ver um suíno agonizando até a morte para que este forneça a nossa “linguiça de cada dia”, não é mesmo?

A morte sempre é algo que merece nossa atenção. Todo policial é um ser humano que ri, chora, que tem medo, que adoece, sofre, morre...

Não se pode banalizar a morte, o impacto que ela causa para todos. Ela pode ser vista como um mal necessário, mas nunca como uma solução para um problema, ou motivo de alegria. Enxergo patologia quando vejo pessoas se deliciando pela morte de alguém, quem quer que seja.



Quero deixar bem claro que não defendo a postura vacilante do policial ante uma “injusta agressão atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. A legítima defesa é um recurso que o policial deve utilizar sempre, e que a iniquidade deve sempre ser combatida, mesmo que com o uso da força letal. O policial militar tem meu respeito pela ação realizada e merece todo o reconhecimento por seu ato, mas o Estado jamais deve ser negligente em submeter este policial a uma avaliação psicológica como o Sr. Deputado acredita que não deveria ter sido.

É bem provável que o policial que atuou na resistência foi avaliado e foi entendido que este não precisa passar pelo PAAPM porque não foram identificadas sequelas emocionais que justificassem sua permanência neste programa, ponto. Porém esta avaliação poderia resultar SIM, num afastamento das funções profissionais.

E se isso acontecesse, qual o problema? Intervir psicologicamente num policial que se envolveu numa ocorrência de gravidade que pode resultar em desajustes emocionais, para si, para sua família e para a sociedade não deve ser visto como um "castigo" ou uma "injustiça", mas sim como uma forma de cuidar e tratar de um policial que pode estar sofrendo.



Num país em que tantos direitos e garantias são concedidos à infratores da lei, descrever um programa de assistência psicológica da Polícia como algo ruim é desacreditar um dos poucos programas da Polícia Militar de São Paulo que fazem valer os "Direitos Humanos" dos policiais.


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